sábado, 12 de novembro de 2011

Curador

Aceitar a própria mortalidade.
A dor da alma,
que dói o corpo inteiro,
que dói o outro que se depara comigo.
Era eu ou era o outro?
Meus eus sem verdades absolutas,
sem fitar Medusas.
Eu Quíron.
Aceitação incondicional,
esperando que Eros resgate Psique.

Dóceis

Olhemos nossos corpos nus.
Comunhão de diversidades,
Pele viva, herança de Gaia.
Celebração de metamorfoses
labirínticas da vida.
Verdades, afetos, se expõem.
Em tempos impostos,
em ritmos padronizados de viver.
Olhemos nossos corpos.
Seus silêncios, refluxos, flatulências, rotinas.
Nossas mãos que tocam,
o nosso e os outros corpos.
Reconhecimento de identidades.
Metodologias.
Nós de significações em fomes devoradoras,
de si e do outro.
Escalda pés cerebral,
restauração de buracos negros.
Legítimos amores criantes
que constroem histórias embrionárias dinâmicas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Conjunção

Erupção do profano.
Carvão da modernidade
atrás do Santo Créu.
Mastigação de alienol.
Umbigos: centro do Universo.

Balanço


                Eu queria me resumir ao preto e branco. Uma estratégia para simplificar e produzir. Me transformei em linhas, sem pretensão que surja a cor. Quero fases de fundos brancos. De vazios respiradouros, de vazios compreensão. Não quero criar um emblema ou seguir um padrão. Se é que a falta de alguma coisa já não é a própria coisa nos coisando um porvir.
                Este ano foi tão mental que fiquei mais nas palavras, naquele blábláblá interno que não leva a absolutamente nada. Aí descubro que as linhas e as cores fazem falta. Aquelas que não são feitas por obrigação, claro. Não sou boa em acabamentos. O imperfeito faz parte da obra, mesmo que se troquem as pessoas e os pronomes. Gosto de citações para poucos. Elas me fazem parecer quase inteligente. Eu deveria focar em sonhos, não em frustrações. As pessoas sonham colorido? Artistas filosóficos. Voltamos aos tais malabaristas. Os assuntos mudam com o tempo.  Já fui mais cuidadosa com as minhas criações. Parece que estou aqui forçando ângulos e vomitando palavras e mais palavras daquele blábláblá.
                Não gosto do papel da coitadinha, mas vivo me sabotando. Meu problema é auto-estima. Inconstância. Na verdade eu só preciso da mesma coisa que a mulher do Horácio.
                É como se a inspiração tivesse acabado quando deixei de ter quem chocar. É quando a vida toma umas proporções drummonianas, totalmente despretensiosa , a encontrar pedras no caminho. E tudo ganha repercussão até que eu me sinta a anônima mais famosa. Esse ano fiz isto sem os figurinos. Este ano a maioria dos meus improvisos não deu certo e meu telefone continua ligando sem querer pra pessoa de quem eu estou falando escutar. É o cúmulo da minha auto-sabotagem! Tiveram outras bem revoltantes e sobre as quais desconfio que é melhor calar. Mais um elemento para dar margem ao imaginário que cerca a minha ilustre pessoa. Isto não é fé, é graça. Sarcasmos de mim mesma.
                Odeio o meu aspecto apaziguador e razoável. Se é que tenho isso. Domingo expressei meu desconforto com uma caixa de sonhos para o ano que vem. Eu sei lá o que eu quero pro ano que vem. Quero aprender a não puxar meu próprio tapete. Missão artística e filosófica intensa. Muita meditação e um copo de água a cada 30 minutos. Eu tenho medo de traçar planos para o futuro. Eu evito. Fujo do pré-programado. Me frustra quando o que eu programo não dá certo. O Pateta Vietnamita tinha razão: frustração fere meus sentimentos. Vou deixar o Pateta aqui antes que ele suscite debates.
                É como se eu não lesse email para não ver a hipocrisia. Fui o mais otimista que pude até agora. Tentei pensar que era uma ilusão minha, que sou cismada. É realismo surreal, mas existe. Este é o acessório básico para pessoas, que como eu, possuem  imã pra maluco. Depois de um tempo a gente relaxa. Eu me divirto, mas esse  ano foi diferente e isto me fez questionar sobre o meu limite de tolerância.
                Termino cheia de reclamações de mim mesma. Não teve ritual diplomático que resolvesse. Está todo mundo esperando atitude sem mexer a bunda. E ainda se tem coragem de criticar a tal popozuda. Alguns se tornam adultos e se acomodam. Pensar nisto me entristece. Eis a explicação pra minha síndrome de Peter Pan.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Além do tema

Tua orgia, tua dor, tua Maysa.
Teus excessos descompassados
em meus pés de vento.
Meu rito de passagem.
Aura violeta.
Nossos dialetos
legíveis na alma.
Nossas tragédias impessoais.
Oblíquas obtusas,
intersecções.
A velha casa nas variáveis,
a ensinar possíveis composições.
Amemos deveras.

Insulto

Vem de sabe onde
e remói mágoas.
Vai sem dar alívio.
Agride com silêncio,
faz buracos de solidão.
Mantras no chuveiro,
canela massala,
velas, quartzo, vinho.
Parece que passou
e volta.
Morfeu, morfina
para esta madrugada.

Passado a limpo

Rascunho nos papéis
Aquilo que deveria escrever em teu corpo.
Te desejo em overdose,
ou em goles de daime.
Dai-me a paz,
Jaz em mim.
Flores anuais em sepulcros
que não esperam mais ressurreições.
Descanse em minhas gavetas,
em teus frágeis papéis ocos.
Reaja.
Não foi assim que te inventei.